O médico alagoano e terceiro vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Emmanuel Fortes, participou de uma reunião on-line no dia 19 de julho de 2020 com a presença de figuras importantes da saúde brasileira, cuja pauta era discutir o embasamento legal para a prescrição da coloroquina e as estratégias de distribuição, que não tem comprovação cientifica contra a Covid-19.
O encontro teria sido sigiloso, e teve três horas de duração, reuniu também dois secretários do Ministério da Saúde, um vice-presidente e dois conselheiros do Conselho Federal de Medicina, o CFM, médicos de diferentes regiões do país e o empresário Carlos Wizard. A reunião permaneceu secreta até esta terça-feira (19), quando foi revelada por uma reportagem do The Intercept Brasil.
No ambiente reservado, os representantes do CFM admitem que estavam ali fazendo debatendo algo que não tinha a aprovação das autoridades de saúde.
Segundo o Intercept Brasil, a gravação do encontro foi entregue por uma fonte que pediu para se manter anônima por medo de represálias. O material não faz parte dos documentos recolhidos pela CPI.
Na reunião, o médico alagoano Emmanuel Fortes afirma que estava “representando os médicos de Alagoas interessados e empenhados em implantar o tratamento precoce”. Na sequência, o médico inicia uma apresentação de 19 slides, com o logotipo da entidade, detalhando leis, pareceres e manuais de conduta médicos para estimular profissionais de saúde a receitarem a cloroquina contra a covid-19 sem receio de sofrerem punições éticas.
Questionado pela médica Luciana Cruz sobre a possibilidade de refazer a palestra para médicos interessados em receitar a cloroquina, Fortes admitiu que não poderia fazer em público o que acabara de fazer ali. “Isso não pode ser uma coisa pública, inclusive porque, como eu sou o responsável pela Codame, [pela área que disciplina a] propaganda e publicidade médica no Brasil. Eu próprio escrevi o que eu não posso fazer”, disse o médico.
Fortes é o responsável por dirigir e coordenar os trabalhos da Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos, ou seja, de propaganda, no CFM. Mas, segundo o Intercept Brasil, no gabinete paralelo, ele tratava do parecer 4/2020 do CFM, que liberou o uso de cloroquina para o combate de doenças cuja aplicação não está prevista na bula do medicamento – caso da covid-19.
A assessoria do CFM ainda não se pronunciou sobre o assunto.
As declarações do Fortes e Santos, conselheiros federais do CFM, são contrarias as do presidente da entidade, Mauro Ribeiro. Em vídeo publicado em outubro de 2020, ele foi taxativo em dizer que “nunca, jamais, em tempo algum [o CFM] preconizou o tratamento precoce”.
O The Intercept Brasil não divulgou o vídeo com a íntegra da reunião, apenas alguns trechos. Assista:
*Com The Intercept Brasil